Decidi por
um tempo não fazer barulho. Sei que o grito da alma é estridente, mas não há,
no mundo inteiro, sorriso que não o abafe. Foi difícil ensinar as
lagrimas o caminho da garganta e não dos olhos. Engolir choro dói, mas agora,
com goela calejada, já nem sinto. Mas, todo esse esforço não passa de um
disfarce, é a capa que visto todos os dias, é a mentira que conto quando
perguntam se já me esqueci de você.
A ultima vez que nos vimos não consegui segurar o riso ao notar
que vestíamos a mesma fantasia, usávamos os mesmos truques de uma falsa
indiferença e sorrisos que forjavam autocontrole. Mas, bastou olhos nos olhos,
e de repente ficamos desmascarados, descobertos de todo disfarce, em completa
exposição de sentimentos. Mais uma vez o amor falou mais alto e nos colocou no
mesmo ritmo. Frágeis e entregues, sozinhos e, enfim, sinceros. Era nosso baile
sem mascaras, onde vestir de nós mesmos era a única roupa apropriada para
ocasião e as palavras de amor guardadas eram musicas para nossos ouvidos.
Sugamos o máximo de cada minuto, mas antes que a meia-noite roubasse o encanto
do nosso reencontro, fugimos desesperadamente, sem deixar os sapatos para trás.
Afinal, já deixamos coisas demais na vida um do outro. Agora, somos dois
fugitivos, fantasiados, fingindo que nada aconteceu.
Nossa recaída quebrou meu silencio. Depois de tanto tempo me
escondendo das palavras fui achada, sei que agora estou sendo lida por elas e
tenho medo do que podem falar por mim. Peço encarecidamente que não estraguem
meu disfarce. Se elas disserem que ainda o amo, eu nego. Se as palavras
contarem que ainda gasto meu tempo tentando entender como nosso relacionamento
se desfez, buscando o exato momento em que deixamos de ser tudo um para o outro, eu
juro que as faço parecerem insanas e descabidas. Suplico às palavras que me
ajudem nessa farsa de não me importar com sua falta, mesmo que exista dor
debaixo desse sorriso. Que a solidão não faça parte dos meus textos, que a
tristeza não ganhe letras e linhas.
Talvez com tempo venha o desapego, e tudo que vivemos vire apenas
boas lembranças, sem saudade. Ou talvez jamais abramos mão dessa capa, dessa
mentira. Quem sabe continuaremos escondendo o mesmo segredo por longos anos,
sempre arrumando uma forma de encobrir um amor que ainda incomoda, que ainda
pede mais um pouquinho de presença. Assim, seguiremos tentando caber em outros abraços, nos
enfiando em corações tão cheios quanto os nossos, mas desejando secretamente as
noites mágicas dos bailes sem mascaras.