quarta-feira, 21 de março de 2012

Disfarce




Decidi por um tempo não fazer barulho. Sei que o grito da alma é estridente, mas não há, no mundo inteiro, sorriso que não o abafe.  Foi difícil ensinar as lagrimas o caminho da garganta e não dos olhos. Engolir choro dói, mas agora, com goela calejada, já nem sinto.  Mas, todo esse esforço não passa de um disfarce, é a capa que visto todos os dias, é a mentira que conto quando perguntam se já me esqueci de você.
A ultima vez que nos vimos não consegui segurar o riso ao notar que vestíamos a mesma fantasia, usávamos os mesmos truques de uma falsa indiferença e sorrisos que forjavam autocontrole. Mas, bastou olhos nos olhos, e de repente ficamos desmascarados, descobertos de todo disfarce, em completa exposição de sentimentos. Mais uma vez o amor falou mais alto e nos colocou no mesmo ritmo. Frágeis e entregues, sozinhos e, enfim, sinceros. Era nosso baile sem mascaras, onde vestir de nós mesmos era a única roupa apropriada para ocasião e as palavras de amor guardadas eram musicas para nossos ouvidos. Sugamos o máximo de cada minuto, mas antes que a meia-noite roubasse o encanto do nosso reencontro, fugimos desesperadamente, sem deixar os sapatos para trás. Afinal, já deixamos coisas demais na vida um do outro. Agora, somos dois fugitivos, fantasiados, fingindo que nada aconteceu. 
Nossa recaída quebrou meu silencio. Depois de tanto tempo me escondendo das palavras fui achada, sei que agora estou sendo lida por elas e tenho medo do que podem falar por mim. Peço encarecidamente que não estraguem meu disfarce. Se elas disserem que ainda o amo, eu nego. Se as palavras contarem que ainda gasto meu tempo tentando entender como nosso relacionamento se desfez, buscando o exato momento em que deixamos de ser tudo um para o outro, eu juro que as faço parecerem insanas e descabidas. Suplico às palavras que me ajudem nessa farsa de não me importar com sua falta, mesmo que exista dor debaixo desse sorriso. Que a solidão não faça parte dos meus textos, que a tristeza não ganhe letras e linhas.
Talvez com tempo venha o desapego, e tudo que vivemos vire apenas boas lembranças, sem saudade. Ou talvez jamais abramos mão dessa capa, dessa mentira. Quem sabe continuaremos escondendo o mesmo segredo por longos anos, sempre arrumando uma forma de encobrir um amor que ainda incomoda, que ainda pede mais um pouquinho de presença. Assim, seguiremos tentando caber em outros abraços, nos enfiando em corações tão cheios quanto os nossos, mas desejando secretamente as noites mágicas dos bailes sem mascaras.