domingo, 9 de outubro de 2011

Coração bagunçado


Sumi, confesso. É que o coração está tão bagunçado que não sei onde enfiei as palavras, pra dizer a verdade, há muita coisa perdida aqui dentro, ele parecia ser mais espaçoso quando eu era menor, meu pecado foi achar que ele não tinha limite. Preciso descobrir alguma forma de voltar à configuração original, não que eu queira negar meu passado, não que eu me arrependa de tudo que fiz até aqui, é apenas uma questão de sobrevivência, sinto que ele pode explodir a qualquer momento.
Deus e família são acessórios de fabrica do coração, o resto, tudo que está dentro de nós, todas essas porcarias e todas as coisas que julgamos preciosas, são de responsabilidade nossa. Lembro que quando era pequena enchia meu coração de fantasia, aquelas crenças de criança, fadas, Coelho da Páscoa, Papai Noel e a terrível Mulher do Algodão, abriguei todas essas historias até o dia que descobri que tudo não passava de alimento para nossa fértil imaginação infantil e as encostei em um canto.
Depois vieram as paixonites, época boa, quem disse que criança não sofre por amor, eu chorava ouvindo a musica de Sandy e Junior, Meu Primeiro Amor. Lembro que voltava a fita cassete (me senti velha agora) umas trinta vezes enquanto pensava no meu amor secreto, o Lucas, eu tinha acabado de entrar para primeira serie e ele estava um ano avançado, o achava lindo, ele era a sensação da escola, sempre engraçado, uma vez ele baixou as calças durante a sessão do filme Gasparzinho - O fantasminha camarada, e eu com essa queda para garotos idiotas fiquei ainda mais apaixonada, aquilo que eu já estava namorando com ele e ele nem sabia. No ano seguinte meu amor se foi, mas se foi de verdade, nunca mais o vi. Com sete anos de idade pensei que aquele seria meu fim, morri por dentro e depois morri mais um monte de vezes, porque o tempo foi me apresentando outros garotos lindos, outras paixões não correspondidas que hoje, junto com o Lucas, estão guardadas dentro de alguma caixa, atrás da estante de amigos.
Amigos, quem não enche o coração deles? Nunca barrei ninguém, um sorriso na fila do ônibus e já coloco a pessoa pra dentro, tenho essa mania de achar que todo mundo é amigo, decepções nesse caso acabam sendo inevitáveis, criamos expectativas sobre pessoas que não tem por nós a mesma consideração. Culpa delas? Claro que não, culpa nossa que não cobramos nada para chamar alguém de amigo, não cobramos a lealdade, não cobramos o ombro pra chorar, não cobramos nem se quer a companhia em um dia difícil, mas, oferecemos o passe livre para que entrem em nossos corações. Pois, pensamos que a quantidade de pessoas que abrigamos é mais importante do que a qualidade, do que o caráter das pessoas que escolhemos para estar ao nosso lado.
Sem perceber amparei algumas tristezas, mágoas, essas parecem que se misturaram e criaram alguns traumas que são responsáveis por atrapalhar nossa harmonia interior. Como é difícil conviver com sentimentos ruins, sempre que temos uma idéia boa eles nos colocam pra baixo: “Lembra quando aconteceu isso e isso"? Ou: "Você não é bom o suficiente pra conseguir tal coisa"! Esses sentimentos não servem para outra coisa além de destruir a confiança que temos em nós mesmo, mas, ainda assim os mantenho espalhados pelo meu coração.
No meio dessa bagunça também existe muito estresse, impaciência, preocupação. Coisas boas? Claro que tem, ainda guardo lembranças da infância, experiências do tempo de escola, amizades que deram muito certo, conquistas, sonhos, mas o coração não é feito de partes, não pode se apegar a um pedacinho gostoso e esquecer-se do resto. Em nossa caminhada é necessário o conjunto e esse às vezes é tão pesado que nosso peito não aguenta.
No meu coração também mora um amor, esse já se sente o dono da casa, senta no sofá, coloca os pés sobre a mesa e me faz dançar conforme a sua música. E o que eu faço? Danço, sinto e morro todos os dias como quando eu tinha sete anos, a diferença é que quando se é menina, você está sempre disposta a morrer mais uma vez.
Agora, já crescida, percebo que poderia ter poupado alguns espaços. Colecionei tantos problemas pequenos que hoje qualquer coisinha já me tira do serio. Insisti em falsas amizades e deixei de lado algumas pessoas que, no fundo, sei que fariam de tudo pra me ver bem. Dei espaço para muitas vontades que não tinham a menor possibilidade de darem certo e hoje as coisas certas, por falta de espaço saem pela janela. Nenhum proveito me trouxe os sentimentos ruins. Me enchi de um amor  e hoje não sei como me esvaziar dele.
Já que não existe um botão restaurador, uma borracha que apague os maus momentos, as más escolhas, preciso encontrar em mim motivos para seguir em frente, para isso preciso voltar ao ponto inicial, pois não é a toa que nosso coração já vem de fabrica com os itens Deus e família, porque quando tudo está dando errado são neles que nos apoiamos para continuar a caminhada e se você for esperto terá conquistado um amigo fiel também, eles ajudam bastante. Agora, preciso só achar minha fé, a esperança de que tudo vai dar certo. E as palavras? Essas, parece que acabei de encontrar!