terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Não é do amor que tenho medo




Você ignorou o aviso na porta. Entrou e perturbou a ordem que demorei a construir.  Meu plano era nunca mais dividir o açúcar com alguém, agora estamos aqui, brigando para caber debaixo do mesmo cobertor. Não estou com raiva de você, só tenho medo de te amar demais. Talvez já seja amor demais, pois dormir me parece menos importante que passar a noite te olhando descansar em meu peito.
Ainda não parei para listar o que temos em comum. O que me faz deixar você ficar. O que te impede de partir. Talvez seja nossa paixão por livros, nossa mania de trocar segredos ou a facilidade que temos de compreender o que o outro diz e o que mora no silêncio de cada um. Você me chama de obcecada porque carrego sua foto na bolsa, mas foi você quem escolheu nossa música e me propôs casamento na noite passada e hoje pela manhã também. É você quem testa meu ciúme falando de outras mulheres e entrega o seu quando outros homens se aproximam de mim. Somos obcecados juntos quando esquecemos o filme rodando na sala e vamos para o quarto. Quando ligamos no meio do dia só para ouvir a voz do outro, só para dizer que deu saudade e que o programa da noite será ficar juntinhos outra vez, na cama ou no videogame, tanto faz. Quando estamos com raiva eu viro a Bruxa e você o Chato, mas o amor continua o mesmo. Brigamos para fazer as pazes, fazemos as pazes prometendo nunca mais brigar e brigamos de novo. Então, você cede e confessa que eu tenho uma grande influência sobre você. E não vejo nisso nenhuma vantagem porque eu sou toda influência sua. Eu que sempre cortei o amor pela raiz, agora acordo cedo todos os dias para regá-lo com beijos e sentir seu cheiro pela manhã. O melhor cheiro do mundo. Eu que me escondia de todos, tive que aprender a deixar você me virar do avesso. 
Depois de tanto tempo parada eu não consigo ir devagar. Atropelo os dias e brinco de construir futuro pra gente. Repito para mim mesma: não posso sentir isso. Não desse jeito tão sem controle e que controla minha vida, reorganiza a minha agenda para sempre ter espaço para nós dois. Desse jeito que rouba o ar e rouba a fome de qualquer outra coisa que não seja você. Desse jeito que me faz passar a noite em claro e ainda acordar de bom humor. Não sei brincar dessa coisa de estar apaixonada, então eu levo a serio e te desejo da forma mais madura que já desejei alguém. Com você eu dispenso o uso de conta gotas, e derramo litros de amor todos os dias porque sei que amanhã tem mais. Mas, temo que fique muito cheio e queira ir embora. Então, por favor, me diga onde fica o freio. Ensina-me a sentir com calma e aproveitar a beleza de cada dia da eternidade que desejo para nós. Mostra-me que não foi um erro mantê-lo aqui dentro e acolhê-lo com seus sentimentos mal resolvidos ainda que você tenha me encontrado em paz com os meus. A casa é sua se quiser. E eu também.
Moço, não é do amor que tenho medo. Tenho medo da falta que ele faz. Tenho medo do que vem depois desses dias fartos. Tenho medo da sua mala que ainda não foi desfeita e da liberdade que te dou ao deixar a porta aberta. Tenho medo de um dia você acordar, olhar para sua bagagem e se lembrar de que parou no lugar errado. Tenho medo de você descobrir que sou caminho e não destino, e então, me deixar sozinha outra vez com o açúcar, o cobertor e essa bagunça que construímos juntos.