sexta-feira, 4 de novembro de 2011

O que fica

O que faria se descobrisse que tem apenas alguns dias de vida? Quem sabe dois meses, um mês ou ainda somente essa semana, o que faria? Com seis anos diria que tomaria todo sorvete do mundo ou que consumiria todo estoque de balas do planeta. Aos doze, meu ultimo desejo seria conquistar o garoto popular da escola. Minha resposta aos dezoito anos seria qualquer coisa relacionada a prática de esporte radical, fazer Bungee jumping, saltar de paraquedas ou subir qualquer montanha. E hoje pensando em uma resposta cheguei a conclusão que acabar com os estoques de sorvetes e balas do planeta ou me gabar por ser a garota radical que pega o garoto mais gatinho da escola não é mais importante do que o fica quando a gente se vai. 
O que você deixaria hoje se partisse? Não falo de dinheiro, jóias ou coleções de cartões telefônicos, falo das coisas que os olhos não veem e que dependem da sensibilidade do coração para serem sentidas. Quero ser saudade antes partir, quero ser lembrança ainda presente. Quero que minhas atitudes demonstrem aos meus amigos o quanto os estimo, quero me certificar que não faltou carinho, que sobrou lealdade, quero ser lembrada em festas nas quais não comparecerei por estar com dor de dente, quero que desejem minha companhia mesmo que seja só para jogar conversa fora em um dia nublado, quero que anseiem por minha presença enquanto eu puder supri-la.
Quero carregar meus pais no colo e fazer o possível para recompensá-los por todo trabalho feito e pela dedicação que tiveram para que eu crescesse bem, e realmente cresci, aquela queda do berço só me fez ficar um pouco lesada, mas nada que a simpatia herdada deles não compense. Quero sempre irritar meus irmãos com minhas chatices, afinal, não é pra isso que os irmãos servem? Para nos mostrar que somos capazes de amar incondicionalmente uma pessoa mesmo conhecendo todos os seus defeitos. Quero diariamente retribuir o carinho, a amizade e proteção que recebo da minha família, para que eles não tenham que vasculhar o passado em busca de uma boa lembrança.
Quero deixar um amor sincero, quero fazer alguém se sentir a pessoa mais linda, especial e segura do mundo. Na verdade, eu preciso mesmo é que essa pessoa perceba isso, que note que nem o Penn Badgley rouba minha atenção quando ele está por perto. Quero que ele saiba que eu prefiro uma tarde chuvosa ao lado dele, ouvindo The Smiths e saboreando um Doritos do que um jantar romântico em um iate, tentando encher a barriga com toda aquela comida fresca, enquanto toca a música mais linda do mundo, More Than Words, e na companhia, claro, de Penn Badgley. E ainda que Penn Badgley prometesse que me faria a mulher mais feliz do mundo eu não trocaria pela esperança que fica a cada vez que em pequenos gestos ele demonstra ser capaz de fazer o mesmo. Todos merecem ser amados de verdade, essa é a maior prova de aceitação, é como se a outra pessoa dissesse: - “Ei, eu sei que você é teimoso, impaciente e egoísta, mas tudo bem, eu te amo mesmo assim”.  - Ou: - “Ei, eu sei que você tem o dedinho do pé torto e que tem mania de roer as unhas, mas tudo bem, ainda assim quero viver todos os dias da minha vida ao seu lado”. – Quero que essa pessoa enxergue esse sentimento, enquanto eu estiver aqui para dá-lo a certeza de que foi amado pelo simples fato de existir.
Se meus dias estivessem contados, tentaria salvar o mundo com palavras, pois muitas vezes fui salva por elas, assim alcançaria aqueles que ainda não conheço, deixaria minhas historias, meus devaneios e tentaria convencê-los de que nenhum bem material fará sentido se a pessoa que o herdou não fizer questão de se lembrar de quem o deixou e que as coisas mais gostosas que podemos receber de alguém são aquelas que cabem em nossos travesseiros, são aqueles bons pensamentos que nos aguardam ali antes de dormir, que nos arrancam suspiros e sorrisos enquanto o sono não chega, é a certeza de que nunca estamos sozinhos, é isso que quero ser para as pessoas, uma boa lembrança antes mesmo de partir.


Abraços!



  • Para as minhas amigas que ainda não conhecem o lindo do Penn Badgley, segue abaixo uma foto.
  • Rapazes, saibam que para alguma garota nessa vida o Penn Badgley nunca chegará nem aos pés de vocês.
  • E para quem não se lembra da música More Than Words (linda!), estou deixando um vídeo.








domingo, 9 de outubro de 2011

Coração bagunçado


Sumi, confesso. É que o coração está tão bagunçado que não sei onde enfiei as palavras, pra dizer a verdade, há muita coisa perdida aqui dentro, ele parecia ser mais espaçoso quando eu era menor, meu pecado foi achar que ele não tinha limite. Preciso descobrir alguma forma de voltar à configuração original, não que eu queira negar meu passado, não que eu me arrependa de tudo que fiz até aqui, é apenas uma questão de sobrevivência, sinto que ele pode explodir a qualquer momento.
Deus e família são acessórios de fabrica do coração, o resto, tudo que está dentro de nós, todas essas porcarias e todas as coisas que julgamos preciosas, são de responsabilidade nossa. Lembro que quando era pequena enchia meu coração de fantasia, aquelas crenças de criança, fadas, Coelho da Páscoa, Papai Noel e a terrível Mulher do Algodão, abriguei todas essas historias até o dia que descobri que tudo não passava de alimento para nossa fértil imaginação infantil e as encostei em um canto.
Depois vieram as paixonites, época boa, quem disse que criança não sofre por amor, eu chorava ouvindo a musica de Sandy e Junior, Meu Primeiro Amor. Lembro que voltava a fita cassete (me senti velha agora) umas trinta vezes enquanto pensava no meu amor secreto, o Lucas, eu tinha acabado de entrar para primeira serie e ele estava um ano avançado, o achava lindo, ele era a sensação da escola, sempre engraçado, uma vez ele baixou as calças durante a sessão do filme Gasparzinho - O fantasminha camarada, e eu com essa queda para garotos idiotas fiquei ainda mais apaixonada, aquilo que eu já estava namorando com ele e ele nem sabia. No ano seguinte meu amor se foi, mas se foi de verdade, nunca mais o vi. Com sete anos de idade pensei que aquele seria meu fim, morri por dentro e depois morri mais um monte de vezes, porque o tempo foi me apresentando outros garotos lindos, outras paixões não correspondidas que hoje, junto com o Lucas, estão guardadas dentro de alguma caixa, atrás da estante de amigos.
Amigos, quem não enche o coração deles? Nunca barrei ninguém, um sorriso na fila do ônibus e já coloco a pessoa pra dentro, tenho essa mania de achar que todo mundo é amigo, decepções nesse caso acabam sendo inevitáveis, criamos expectativas sobre pessoas que não tem por nós a mesma consideração. Culpa delas? Claro que não, culpa nossa que não cobramos nada para chamar alguém de amigo, não cobramos a lealdade, não cobramos o ombro pra chorar, não cobramos nem se quer a companhia em um dia difícil, mas, oferecemos o passe livre para que entrem em nossos corações. Pois, pensamos que a quantidade de pessoas que abrigamos é mais importante do que a qualidade, do que o caráter das pessoas que escolhemos para estar ao nosso lado.
Sem perceber amparei algumas tristezas, mágoas, essas parecem que se misturaram e criaram alguns traumas que são responsáveis por atrapalhar nossa harmonia interior. Como é difícil conviver com sentimentos ruins, sempre que temos uma idéia boa eles nos colocam pra baixo: “Lembra quando aconteceu isso e isso"? Ou: "Você não é bom o suficiente pra conseguir tal coisa"! Esses sentimentos não servem para outra coisa além de destruir a confiança que temos em nós mesmo, mas, ainda assim os mantenho espalhados pelo meu coração.
No meio dessa bagunça também existe muito estresse, impaciência, preocupação. Coisas boas? Claro que tem, ainda guardo lembranças da infância, experiências do tempo de escola, amizades que deram muito certo, conquistas, sonhos, mas o coração não é feito de partes, não pode se apegar a um pedacinho gostoso e esquecer-se do resto. Em nossa caminhada é necessário o conjunto e esse às vezes é tão pesado que nosso peito não aguenta.
No meu coração também mora um amor, esse já se sente o dono da casa, senta no sofá, coloca os pés sobre a mesa e me faz dançar conforme a sua música. E o que eu faço? Danço, sinto e morro todos os dias como quando eu tinha sete anos, a diferença é que quando se é menina, você está sempre disposta a morrer mais uma vez.
Agora, já crescida, percebo que poderia ter poupado alguns espaços. Colecionei tantos problemas pequenos que hoje qualquer coisinha já me tira do serio. Insisti em falsas amizades e deixei de lado algumas pessoas que, no fundo, sei que fariam de tudo pra me ver bem. Dei espaço para muitas vontades que não tinham a menor possibilidade de darem certo e hoje as coisas certas, por falta de espaço saem pela janela. Nenhum proveito me trouxe os sentimentos ruins. Me enchi de um amor  e hoje não sei como me esvaziar dele.
Já que não existe um botão restaurador, uma borracha que apague os maus momentos, as más escolhas, preciso encontrar em mim motivos para seguir em frente, para isso preciso voltar ao ponto inicial, pois não é a toa que nosso coração já vem de fabrica com os itens Deus e família, porque quando tudo está dando errado são neles que nos apoiamos para continuar a caminhada e se você for esperto terá conquistado um amigo fiel também, eles ajudam bastante. Agora, preciso só achar minha fé, a esperança de que tudo vai dar certo. E as palavras? Essas, parece que acabei de encontrar!

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Visita

Meu amor, não sei se deveria te incomodar com essa notícia, mas hoje nossa casa recebeu visita. Não se via ninguém por aqui desde que você partiu e deixou esse coração todo só pra mim. Alguns até tocaram campainha, jogaram pedrinhas na janela, mas eu tinha um medo terrível de me aproximar da porta, pois seu cheiro, que ainda está impregnado em cada canto, poderia sair por alguma fresta.
Há semanas uma pessoa está rondando nosso jardim, já não me importava com o que acontecia lá fora, pois era você que cuidava daquele cantinho, por isso, nem me incomodei com a presença desse estranho que chegou sorrateiramente, antes só observava, depois começou cavar, limpar, e eu só o vigiando pela janela, espionando cada passo. Ele parece ser um bom moço, plantou a flor do sorriso, da descontração, do companheirismo, flores que morreram aos poucos desde que se foi. Desenterrou coisas que você escondia de mim no quintal e isso me chateou um pouco. Olhando daqui consigo ver bem viçosa a plantação da confiança, por essa ele parece ter um cuidado especial, não passa um dia sem regá-la, tem várias outras, tem carinho, respeito, diversão, até a tranquilidade, que você dizia ser impossível nascer em nosso solo, esta brotando agora. 
Foram dias de dedicação, debaixo de sol, de chuva, sempre batendo na porta, com esperança de que eu abrisse, mas me fazia de surda, desinteressada, como se todo aquele trabalho não tivesse importância alguma pra mim, escondendo minha admiração e felicidade por essa casa abandonada ter atraído a atenção de alguém. Logo, sem retorno, sem uma demonstração de gratidão ou uma pontinha de interesse da minha parte, ele foi cuidar do jardim da vizinha, então, me peguei enciumada, abandonada por uma pessoa que nunca aceitei em minha vida. Quis bisbilhotar, escancarei a janela, mas de lá minha visão ficava pela metade, então,  abri a porta, saí por alguns minutos, mas vê-lo cultivar em outro coração não me fez bem, por isso voltei rapidamente para meus aposentos, acabei deixando a porta meio aberta e isso lhe pareceu convidativo, e quando percebi, aquele misterioso jardineiro já estava aqui dentro. 
Senti vergonha da poeira que nunca tirei, do seu lado da cama que nunca arrumei, as manias que cultivamos ainda estão dentro de uma caixa junto do seu sorriso atraente, do seu olhar sincero, de seus beijos. Nossas musicas ainda  tocam no aparelho de som do quarto e sempre me pego cantarolando sem querer. Na televisão passa o vídeo de nossos melhores momentos, quando éramos parceiros, cúmplices, nele está nossas melhores risadas, nossos segredos. Os sonhos ainda estão dentro do guarda-roupa, há saudade espalhada por toda casa e boas lembranças penduradas nas paredes que continuam pintadas de amor, pois assim juramos que seria até o fim. Nos fundos tem um saco de lixo com promessas quebradas, mentiras gastas, algumas verdades que deixamos de usar ao longo do tempo e muitas discussões que nunca serviram para nada. No forno da cozinha ainda estou assando a magoa que ficou e atrás da porta está a vassoura do esquecimento pronta para uso, esperando apenas minha coragem. 
Sabe meu querido, esse forasteiro que plantou em mim a vontadade de viver novamente quer me ajudar a colocar as coisas em ordem, pra me agradar antes de sair me deu uma caixinha cheia de borboletas e por um descuido meu, elas bateram asas e saíram pela janela, tenho a sensação de que foram parar bem no meio da minha barriga, pois a cada vez que me lembro dele, elas se agitam e sinto um ventinho frio, o mesmo que senti quando vi você pela primeira vez.
Amor,  só quero comunicar que aquela chave escrita eu te amo que te dei já não abre mais nossa porta, ainda não tinha trocado a fechadura, pois aguardava ansiosamente que voltasse. Mas enquanto pensava estar invisível, imperceptível, fui encontrada por esse homem cativante, que roubou minha atenção, e agora as janelas e portas desse coração abandonado estão abertas pra ele entrar. Pela primeira vez, estou desejando um novo inquilino para me fazer companhia. Ele disse que volta amanhã, e eu estou esperando.